sexta-feira, 9 de abril de 2010

Caverna hype

Quem disse que comer dentro de cavernas era coisa de homens pré-históricos? Na Espanha esse costume não saiu de moda e, quem diria, pode até ser um grande acontecimento. Na cidadezinha de El Perdigón, situada 10km ao sul de Zamora, na Comunidade Autônoma de Castilla y León, pode-se encontrar inúmeros restaurantes que estão localizados abaixo da terra.

El Perdigón (cujo nome remete ao filhote da perdiz, antigamente uma ave muito comum na região) faz parte da Ruta de la Plata, rota de comunicação norte-sul espanhola criada durante o Império Romano, pela qual circulavam mercadorias, tropas, comerciantes e viajantes, cujo tráfego contínuo favorecia a difusão da cultura romana e propiciava o controle da área, e que continuou sendo utilizada durante os séculos seguintes.

Esse pequeno município, que conta apenas com 51km2 quadrados e pouco mais de 750 habitantes é conhecido por ser um paraíso gastronômico. Se diferentemente de outras cidades da região, como a bela e estudantil Salamanca, não dispõe de tantos encantos arquitetônicos sobre a terra, os possui por debaixo, em suas antigas bodegas, típicas da região de Castilla y León. Difícil de definir, uma bodega é uma espécie de caverna subterrânea que funciona ao mesmo tempo como adega, armazém, sala de estar e de jantar. Mas a grande diferença está no aproveitamento comercial: parte importante das bodegas d’El Perdigón foram reformadas e adequadas para o funcionamento de restaurantes, que hoje são conhecidos e adorados por quem já fez uma refeição por ali. Cuidadosamente construídas manualmente há quase cinco séculos, essas construções subterrâneas tinham como objetivo garantir melhores resultados na fabricação de vinhos, com a escuridão e o silêncio necessário para sua fermentação e conservá-lo em perfeitas condições de temperatura e umidade.

O acesso a essas bodegas, que podem ter 6, 7 ou até 15 metros de profundidade, é feito unicamente por uma escada escavada na pedra, provocando a sensação de estar entrando em um longo labirinto.
Ao terminar a descida, o visitante é recebido por mesas e bancos de madeira maciça, e paredes normalmente decoradas de maneira simples e rústica, garantindo uma perfeita ambientação sem perder o seu charme. Muitas vezes são os próprios donos que atendem às mesas ou encaram a cozinha para oferecer os deliciosos pratos feitos à brasa, que vão de lingüiça e costela de boi a coelho e cordeiro, que têm o sabor ainda melhor se acompanhados de pão caseiro e salada. Isso sem falar numa boa jarra de vinho, que não pode faltar por ali. Em estabelecimentos como a “Bodega Los Yugos”, a refeição ainda pode terminar com um bom café e uma garrafa de licor de fabricação própria - também há a opção sem álcool para os motoristas. Há outros como a “Bodega Antigua” que, além do tradicional, dispõe também de um salão ao nível da rua, e garante facilidades como o pagamento com cartão de crédito.

A refeição para duas pessoas, com salada, pão, vinho, dois tipos de carne e café sai por cerca de 30 euros. Entre particulares e comerciais, diz-se que há cerca de 300 bodegas em El Perdigón, por isso, ninguém se contenta com uma única visita: quando se vai uma vez, hay que volver!

Como chegar: considerando o tamanho da cidade, a melhor opção é ir em carro. De Madri, a jornada é longa, com cerca de 250km; a melhor opção é ir a Salamanca e de ali sair pela N-630 sentido Zamora.


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